Os vinhos escorpianos devem conjugar estrutura, intensidade e complexidade.

Chegamos ao signo de Escorpião, um signo difícil de descrever, sem fugir de alguns estigmas. Vamos explorar seus fundamentos para entender melhor essa complexidade. Em primeiro lugar, trata-se de um signo do elemento Água, o que lhe dá um traço mais emocional e intuitivo. Escorpião é regido por Plutão (hoje denominado planeta anão), um planeta distante e de dimensões reduzidas, com visualização difícil e lenta rotação: leva 248 anos para dar uma volta em torno do Sol. Devido a esse distanciamento, só foi descoberto em 1930. Até então, Escorpião só era regido por Marte, motivo pelo qual muitos consideram este o seu co-regente, que lhe aporta calor e perfil bélico.

Plutão (Hades, para os gregos) é o nome do deus dos mortos, príncipe das trevas, que reina sobre as sombras. Ele simboliza o nosso encontro com o inconsciente e suas forças invisíveis, profundas e poderosas. Escorpião também está associado ao mito de Órion: um exímio caçador que teria se apaixonado de forma obsessiva por Ártemis e morto, em punição, pela picada de um escorpião.

Por essa conjugação de fatores, o signo de Escorpião, apesar de discreto, enigmático, estaria movido por um turbilhão de emoções muito fortes, relacionadas aos afetos, aos ciclos de vida, à finitude existencial. Aqui, a dualidade freudiana Eros X Thanatos (pulsão de morte) se manifesta de forma contundente no conflito entre a fruição do amor sexual e a alucinação possessiva.

Em nossa transição zodiacal, encontra-se o libriano, fatigado pelo exercício mental equilibrista, como signo “justiceiro” que é. Quer mergulhar e ser envolvido pelas águas profundas de êxtase e dor daqueles que se deixam tomar pelas fortes emoções.

Os vinhos escorpianos devem conjugar estrutura, intensidade e complexidade. Não mais o perfil volátil e fresco dos vinhos de ar – há que se ganhar em corpo, cor, taninos e capacidade de evolução organoléptica. O vinho do primeiro decanato ainda preserva um pouco da leveza do antecedente: branco mais untuoso, com matizes aromáticos sedutores de frutas amarelas de caroço, como pêssego e damasco. Trata-se da cepa Viognier, muito presente no norte do Vale do Rhône, França, onde faz vinhos de corte e um grande varietal: o Condrieu. É cada vez mais usada no sul da França, bem como em países do Novo Mundo.

O vinho clássico de Escorpião é o da cepa Tannat, originária da região dos Pireneus, entre o sudoeste da França e o País Basco. É na AOC Madiran que ela é predominante, mas se aclimatou muito bem ao Uruguai, país latino, de clima mais quente e rodeado por águas, que favorece seu perfeito amadurecimento e equilíbrio. Onde quer que seja, Tannat é uma cepa de casca espessa, que produz um vinho tinto violeta intenso, intransponível e com forte presença de taninos. O álcool e a acidez acompanham bem a sua estrutura, mas lidar com a sua agressividade tânica requer tempo e um produtor corajoso e habilidoso. Bem trabalhada, pode dar vinhos longevos e intensos, ótimos acompanhamentos para carnes.

O terceiro decanato recebe a influência solar expansiva do sagitariano, próximo signo do zodíaco. A cepa espanhola Monastrell, mais conhecida em sua versão francesa (Mourvèdre) faz um vinho também de cor rubi intensa, com forte estrutura tânica. Como ela amadurece tardiamente, gosta de regiões solares mediterrânicas, que vão valorizar a expressão de suas notas terrosas, animais e defumadas. Em seus constantes “acasalamentos” do corte GSM, a Mourvèdre é a espinha dorsal do vinho, uma espécie de “varão” escorpiano.

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