Rebelde, singular, racional e, emocionalmente, frio.

Toda vez que penso no signo de Aquário, ele me remete ao filme Hair, um musical incrível, lançado em 1979 no cinema, inspirado em peça estreada na Broadway uma década antes e que remete à contracultura hippie dos anos 60. Não há lá um consenso sobre quando se dá a aguardada era de Aquarius, mas quanto às características associadas ao signo certamente há: liberdade, revolução, originalidade, utopia etc.

Aquário é o último signo de ar do zodíaco e, como os demais, ele também é muito mental. Enquanto Gêmeos investe essa energia mental no campo da sociabilidade, e Libra, na estética, Aquário está movido por grandes ideais. Não quer nada menos do que mudar o mundo: tem um senso humanitário aguçado, vislumbrando movimentos que extrapolem as aspirações individuais. Faz isso de modo excêntrico, mas racional, sem respeitar muitas vezes os limites emocionais e culturais que justificam um comportamento mais conservador.

E o que estaria na base desse perfil? Aquário é regido por dois planetas: Urano e Saturno. O primeiro, que remete muito mais às suas representações sígnicas, só foi descoberto oficialmente em 1781, período próximo à Revolução Francesa e extremamente significativo para a humanidade. Ali, temos que uma ética mais conservadora é substituída por uma visão de mundo mais racional, que coloca o homem e a ciência no centro das decisões e não as premissas religiosas e morais.

Astronomicamente falando, Urano tem uma configuração única, porque seu eixo de rotação é inclinado para o lado, quase no plano de translação do planeta. O seu interior é formado por rochas e gelo, o que faz de sua atmosfera planetária a mais fria do Sistema Solar. Rebelde, singular, racional e, emocionalmente, frio: eis os atributos de Aquário.

A passagem de Capricórnio a Aquário ainda se dá sob a égide de Saturno, regente do primeiro e corregente do segundo. A excentricidade aquariana é bem discreta no primeiro decanato, ela se insinua no vinho por meio de uma cepa branca, que faz vinhos muito frescos e com aromas às vezes excêntricos de petróleo. Riesling é uma mistura da solidez saturniana com a singularidade uraniana. É uma cepa consagrada, que faz grandes vinhos secos e licorosos, acostumada às baixas temperaturas uranianas. É dela o eiswein, o “vinho do gelo”, de origem alemã; um vinho de sobremesa, cujas uvas são colhidas praticamente congeladas em regiões de rigoroso inverno, a fim de concentrarem mais açúcar natural.

Continuamos com um vinho branco no segundo decanato, mas um branco bem diferente. Nada mais ousado e excêntrico do que um vinho laranja ou âmbar. O vinho laranja está atualmente na moda, mas ele se inspira no passado longínquo da produção de vinhos na Geórgia, país ao qual se atribui a origem da vitivinicultura. Reciclar preferências faz parte da história da humanidade, e o vinho laranja agora é uma forma de inovação – ele resgata métodos antigos de produção, inova e tira o consumidor da zona de conforto. As uvas são brancas, mas ficam em contato com as cascas (método usual para vinhos tintos apenas) a fim de adquirirem mais estrutura e notas aromáticas excêntricas de especiarias, castanhas, mel e toques oxidados. Não é um vinho fácil de agradar muitos paladares; mas quem diz que o aquariano se importa com isso?

Já no terceiro decanato, o vinho aquariano é tinto, fruto da combinação da ousadia de Aquário com a criatividade e o ocultismo de Peixes. A cepa é Pinotage, foi concebida na África do Sul pela associação entre a Pinot Noir e a Cinsault (localmente denominada Hermitage). Por incrível que pareça, a cepa não remete a nenhuma das duas. Faz um vinho tinto intenso e de aromas muito singulares, como borracha e fumaça.

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