Os primeiros artigos do ano serão dedicados a regiões vitivinícolas que se consagraram pela produção de vinhos brancos, já que nesta época, no Brasil, recomenda-se encher a taça com esses deliciosos produtos, muitas vezes ignorados pelos consumidores que acham que vinho bom é vinho tinto. O gosto particular é soberano, sem dúvida, e eu seria das últimas pessoas a invalidar a sua importância, desde que ele não tenha sido pautado por preconceitos. Vinho é diversidade – deguste com o coração aberto, que um mundo de prazer será descoberto!

Escolhi a região da Alsácia, na França, para começar, porque seus vinhos brancos estão dentre os melhores do mundo, embora menos presentes nas prateleiras do que eu gostaria. A Alsácia também é um dos melhores roteiros vitivinícolas do mundo, e se você tiver a chance de poder degustar os vinhos in loco será uma viagem inesquecível. A região se divide em dois departamentos, Baixo Reno e Alto Reno, cujas capitais são Estrasburgo e Colmar, respectivamente. É difícil escolher o que é mais belo ali, entre a clássica cidade de Estrasburgo – com sua majestosa Catedral de Notre Dame e os charmosos canais da Petite France – e a particularidade de Colmar, tipicamente alsaciana e rodeada por vilarejos floridos, de arquitetura medieval e renascentista.

De origem germânica e romana, 160 localidades alsacianas já cultivavam a vinha antes da Idade Média e tiveram seus apogeus no século XVI, período interrompido pela Guerra dos 30 anos. Aliás, a Alsácia é uma região sofrida pelas guerras – foram inúmeras, em função de sua posição fronteiriça e estratégica, entre a França, a Alemanha e a Suíça e nas proximidades do Rio Reno. Já pertenceu à Alemanha, já foi dividida entre as duas nacionalidades e foi ocupada pelos nazistas entre 1940 e 1945. Assim, tem muitos traços germânicos nos próprios vinhos – por exemplo, predominam vinhos varietais brancos, e a cepa Riesling é uma das mais importantes. Mas a lógica qualitativa francesa também se faz presente nas particularidades dos terroirs de excelência, classificados como Grand Crus e Lieux-dits.

Dessa mistura, combinada a condições especiais para a vitivinicultura emerge uma identidade própria forte, com certos traços bem singulares, como a produção de vinhos marcados pela mineralidade e exuberância aromática. O aroma marca não apenas os seus vinhos, mas também um queijo bem típico, o Munster, peso-pesado dentre os perfumados queijos da França, que desafia os mais treinados paladares a comê-lo sem estranhamento.

Sua vitivinicultura evoluiu novamente após a Primeira Guerra Mundial e hoje é um dos seus pilares econômicos em termos de produto agroalimentar. A partir de 1962, foi reconhecida como Appellation d’Origine Contrôlée. Em 1975, teve seus Grand Crus regulamentados, seguidos pela AOC Crémant d’Alsace, espumante da região feito pelo método tradicional e um dos mais consumidos na França. Seus vinhos têm reputação internacional e, na França, são consumidos especialmente ao leste e na região parisiense.

Colmar, Alsácia

Embora situada numa zona fria, ao nordeste da França, a Alsácia é uma das regiões mais visitadas do país, durante todo o ano. Colmar é a capital do vinho e tem como atração o seu centro histórico, onde está a Petite Venise, com suas casas colombage, de fachada de madeira, ao longo dos canais do Rio Lauch. Lá também tem uma cópia da estátua da Liberdade (nada a ver com o estilo Colmar de ser), já que é a cidade do criador do monumento nova-iorquino, o escultor Fréderic Auguste Bartholdi. A cidade é visitada também no período das festas de fim de ano, para os mercados de natal. Estrasburgo é a capital da Alsácia e sede do Parlamento Europeu – bela, majestosa, cultural. Lá se encontra a Petite France, patrimônio mundial da Unesco, com canais, colombages, flores… um quadro vivo de rara harmonia.

O vinho rei, como dizem, é o branco da cepa Riesling e a rainha, também varietal, é a cepa Gewurztraminer; 90% dos vinhos produzidos são brancos, feitos especialmente dessas castas e da Pinot Blanc, Pinot Gris, Muscat e Sylvaner. Para os tintos, predomina a Pinot Noir. A excelência da vitivinicultura alsaciana se deve à sua variedade de solos, que lhe dá riqueza e diversidade e seu clima semicontinental. O verão quente atinge as colinas de 200 e 400m de altitude, favorecendo a maturação das vinhas que dão origem aos seus Grand Crus e a muitos vinhos de colheita tardia.

No próximo artigo, tratarei cada um deles, com mais detalhes.

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