Duas lives dessas ricas regiões das quais trago belíssimas recordações e uma história curiosa.

Antes de terminar a série de artigos sobre o norte da Espanha, faço uma interrupção para falar de Portugal. O mês de outubro foi repleto de eventos em torno dos vinhos portugueses no Brasil, segundo país do qual importamos mais vinhos. Entre 23 e 25, ocorreu uma série de encontros virtuais com produtores e críticos portugueses, seguintes a envios de vinhos para todo o Brasil. Paralelamente, até este domingo (1º/11), as redes de supermercados e o e-commerce estão oferecendo uma série de promoções para os rótulos da terrinha.

Acabo de participar também de dois eventos promovidos pela Importadora Wine Lovers com produtores portugueses da região de Trás-os-Montes e do Douro, ambas das quais trago belíssimas recordações. Como muitos brasileiros, tenho antepassados portugueses – o bisavô paterno de minha mãe era português e, embora não tenha havido continuidade na relação social com a parte familiar que ficou em Portugal, sabia-se que ele veio da região de Trás-os-Montes. Assim, fui com minha mãe numa viagem rumo ao norte de Portugal, tentando farejar as nossas origens.

Confesso que eu farejava vinho, mas queria tentar proporcionar à minha mãe o contato mais próximo com a sua cultura ancestral. Foi quando descobri que havia uma cidade que se chamava Vila Pouca de Aguiar em Trás-os-Montes. Nos dirigimos a essa cidadela muito curiosa e, em poucas horas de estadia, conseguimos identificar escola, Centro Cultural e comércios que levavam o nome Aguiar – tudo parecia familiar e minha mãe foi ao delírio!!!

Em algum momento da live com o enólogo Amílcar Salgado, da Quinta de Arcossó, eu contei que havia estado lá e ele me revelou que a vinícola estava a poucos quilômetros de Vila Pouca de Aguiar. A região de Trás-os-Montes fica no Nordeste de Portugal, acima do Douro – é muito famosa pela produção de azeites, mas os seus vinhos ainda são pouco encontrados por aqui. O Rio Douro corta o norte de Portugal, e a Quinta de Arcossó está em um dos afluentes do Douro, numa parte muito montanhosa, com altitudes no entorno acima de 1.200m, onde as amplitudes térmicas são superiores às da região do Douro. Essa alta amplitude térmica imprime características particulares às vinhas, já que suas maturações são lentas e intensas. “A potência é domesticada, e os vinhos ganham mais energia”, cita Amílcar.

O primeiro vinho servido foi o Quinta de Arcossó Branco, um corte que alia a acidez da Arinto à fruta da Fernão Pires, suas castas principais. O vinho passa 6 meses em barrica, onde é aplicada a técnica de bâtonnage, visando reforçar sua complexidade aromática e volume. O resultado é um vinho bem aromático, com notas florais e frutadas. Na boca, um ataque fresco e caloroso, com um final longo de fruta madura tropical.

O segundo vinho foi o Padrão dos Povos 2013, um corte com 40% de Tinta Roriz, 40% de Tinta Amarela e 20% de Touriga Franca (uvas típicas do norte de Portugal) – um tinto de entrada com ótimo custo/beneficio. Os vinhos tintos são pisados a pé em lagares de inox. Segundo o enólogo, a pisa mecânica não consegue substituir o movimento manual; a pisa é mais lenta do que a mecânica e preserva melhor os sabores.

O terceiro vinho foi o Quinta de Arcossó Reserva 2009 e inclui ainda a Touriga Nacional em seu corte. É um tinto potente e muito macio, que já conta com 11 anos e continua intacto, com madeira bem integrada.

A segunda live foi com o enólogo João Menéres, da Quinta do Romeu – enólogo jovem e devotado, da quarta geração de uma família que se estabeleceu no Douro em 1874. Chegaram em busca de matéria prima para fabricação de cortiças e acabaram descobrindo as outras riquezas do Douro. Atualmente produzem vinhos, azeites e cortiças. A Quinta do Romeu recomeçou a viticultura em terrenos do Douro arrasados pela filoxera e, desde o início, moldou sua produção de forma autossustentável, estabelecendo as bases para a atual agricultura biodinâmica, certificada pelo selo Demeter, da qual João é um fervoroso adepto.

A Quinta do Romeu fica a nordeste do Douro Superior – parte mais continental, com grande altitude e clima extremamente seco. O inverno ali é mais longo, e a maturação das uvas ocorre duas a três semanas mais tarde do que em Régua (Baixo Corgo) e Pinhão (Cima Corgo) – regiões centrais da viticultura do Douro. A maturação fenólica tardia ocorre em dias mais curtos, com noites mais frias e variações entre 12º e 30ºC. Os vinhos apresentam uma mistura perfeita entre potência e frescor, mantendo certa austeridade e um estilo bem purista – uma metáfora perfeita da natureza selvagem do Douro, domada com muita precisão e harmonia pelas mãos do homem.

Desta vez, foram degustados também um branco, recém-chegado ao Brasil e dois tintos – o vinho de entrada, Moinho do Gato 2015, e o Quinta do Romeu Reserva 2014, vinho requintado, que merece ser oxigenado para mostrar a finesse da sua trama de sabores, taninos e acidez, que vão sustentar por muitos anos a longevidade deste produto de terroir.

A Wine Lovers está disponibilizando kits com descontos de vinhos das duas Quintas em seu site e, caso utilizem o cupom MIRIAMAGUIAR nas compras, o leitor poderá obter ainda mais 10% de desconto em qualquer produto. Este link pode facilitar a compra: https://olhar.site/?wine-lovers-maguiarvinhos-eper2

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