Uma combinação complexa para um signo complexo
Estamos no mês de novembro, período outonal na Europa, onde se encontram muitas das tradicionais regiões vitivinicultoras mundiais. Boa parte das colheitas já terminou e muitos vinhedos vão perdendo a sua folhagem. As temperaturas vão caindo dia a dia, levando as pessoas a se recolherem e a perceberem que mais um ciclo anual vai se completando. Nas adegas, é hora de transformar a uva em vinho, concentrar-se nessa alquimia e avaliar custos e benefícios.
Das cores e brilhos do verão, mergulha-se aos poucos na profundidade do inverno. Claro que esse imaginário tem mais relação com as regiões de clima temperado do hemisfério Norte, mas, simbolicamente, a memória do vinho está mais associada a esse contexto, assim como a Astrologia. Anne Barbault diz o seguinte em obra literária dedicada ao tema: “O Escorpião evoca a natureza do dia de Todos os Santos: a queda das folhas, o toque de finados da vegetação, o retorno ao caos da matéria bruta, até que o humo prepare o renascimento da vida.”
Para falar de Escorpião, portanto, signo regente dos nascidos entre 23 de outubro e 21 de novembro, entramos em contato com esse imaginário de penumbra e profundidade. O objetivo desta coluna agora é sugerir quais vinhos poderiam atrair e satisfazer o paladar dos escorpianos, tendo como referência os textos sobre sinastria entre signos.
No artigo que escrevi sobre o signo de Libra, eu dizia que era difícil escolher quais as melhores sinastrias, considerando que muitas possibilidades pareciam otimistas. No caso de Escorpião, o entendimento é de que os encontros harmoniosos dependem de vários fatores e, assim, achar um parceiro ideal é mais desafiador. O nativo busca intensidade e profundidade nos encontros, mas apresenta um perfil possessivo, tendencialmente mais conflituoso. O vinho deve ser igualmente intenso e acolhedor.
Para reunir afeto e intensidade, chego aos signos de Fogo e Água. Sinto que o match se encontra entre os dois. Em termos de vinhos, uma boa saída seria escolher um vinho de um signo de Fogo de um decanato próximo a um signo de Água. O que é possível, já que o Zodíaco dos Vinhos apresenta vinhos para três decanatos de cada signo. O signo de Áries, por exemplo, é de Fogo, mas o vinho de seu primeiro decanato tem influências piscianas, então é um fogo menos agressivo, intenso e redondo – capaz de mobilizar afetos, sem provocar conflitos.
Falo dos vinhos da casta Nero d’Avola, indicados para o primeiro decanato de Áries, que sofre a influência de Peixes. Nero d’Avola é uma das cepas tintas mais importantes da Sicília, região vitícola mais produtiva da Itália. Seus vinhos são concentrados em cor, aromas e potência alcoólica, mas são vinhos solares, de acidez média e taninos maduros – intensos e aveludados.
Para uma segunda combinação, inverti essa mistura de perspectivas, isto é, se no primeiro caso foi um vinho de Fogo mais maleável, agora passo a um vinho de Água mais sensual: o vinho do terceiro decanato de Câncer, que tem influências leoninas. Aqui o objetivo é capturar o escorpiano de suas “bad trips” e atraí-lo pelo viés da sensualidade, mobilizando a sua potente energia libidinal.
Os vinhos que recomendo são de uma uva de forte expressão aromática, a Gewurztraminer, que está muito presente em áreas mais frias da Europa – como na Alsácia, na França, na Alemanha e na Itália do Norte – onde gera caldos muito sedutores, com aromas florais, notas tropicais e de especiarias e, em boca, algum nível de dulçor.