A região da Borgonha já é consagrada mundialmente como uma das mais qualificadas regiões de produção de vinhos. Para muitos, a melhor de todas. Se, no âmbito da qualidade, sempre pode existir controvérsias em relação a classificações, creio que não existam dúvidas quanto ao papel fundador da Borgonha na concepção de qualidade do vinho. E isso se deve especialmente pelo avançado e profundo conhecimento de seu território e dos aspectos naturais, técnicos e culturais que contribuíram para gerar resultados tão substanciais em termos de qualidade.
O vinho da Borgonha expressa muito bem a noção de terroir e, em reconhecimento a esse modelo fundador, os climats do vinhedo da Borgonha (terroirs vitícolas com características excepcionais) foram tombados como patrimônios da Unesco em 4 de julho 2015.
Acompanhando uma série de iniciativas visando à valorização desse território e de seus produtos, serão inaugurados, agora no primeiro semestre de 2023, três equipamentos culturais em cidades nucleares de distintos polos de produção da Borgonha: Beaune, Chablis e Mâcon. O projeto “Cité des Climats” vem sendo conduzido desde 2010 pelo Bureau Interprofissional de Vinhos da Borgonha (BIVB), instituição que cuida de sua representação e promoção institucional, a exemplo de outros comitês das demais regiões vitivinícolas francesas.
O projeto se sintoniza com uma tendência internacional de investimento das grandes regiões vitivinícolas na criação de equipamentos culturais ligados à educação e à cultura do vinho. Locais que redimensionam o conceito de museu, multiplicando as modalidades de acesso à história do vinho, pela utilização de novas ferramentas da comunicação digital e fazendo desses espaços lugares de atividades culturais constantes, ligadas ao vinho e à sua integração com a história, arte, educação e gastronomia.
Em 2016, foi inaugurada a Cité du Vin na cidade de Bordeaux. Em 2020, a região do Douro, Portugal inaugurou um complexo cultural do vinho, o WOW – The New Culture District – um quarteirão que reúne museus, caves, restaurantes e locais para eventos e cursos de vinhos, situado em Vila Nova de Gaia. A ideia já está se espalhando não apenas no Velho Mundo, mas também no chamado Novo Mundo do Vinho; por exemplo, com o Centro Nacional de Vinhos em Adelaide, Austrália, ou o Wineseum da Califórnia, em Santa Rosa, EUA.
Esses empreendimentos ocorrem ainda num contexto de grande profusão do enoturismo, uma das atividades integradas à produção de vinhos que mais cresce atualmente. A vitivinicultura normalmente é desenvolvida no campo, próxima de vilarejos com paisagens belíssimas. O vinho cria novas rotas turísticas, valorizadas pelo enlace do vinho com a história local e seu farto apelo sensorial e gastronômico.
O empreendimento “Cité des Climats” da Borgonha está de certo modo integrado a outro projeto recém-inaugurado na capital da região Bourgogne-Franche-Comté, em maio de 2022. A “Cidade Internacional da Gastronomia e do Vinho” se localiza bem no centro histórico de Dijon e visa contar e reviver a história da gastronomia francesa e do vinho da Borgonha num espaço de 1.750m².
Juntos, esses quatro cantos são muito representativos da diversidade do terroir bourguignon: Dijon e Beaune são os centros da reputada Côte d’Or e seus vinhos de altíssimo nível; Chablis, meio deslocada a norte, terra de brancos elegantes e minerais, que bem correspondem ao seu clima mais continental; e Mâcon, a sul da Borgonha, com vinhos mais calorosos e acessíveis ao grande público.
Segundo o BIVB, o objetivo é apresentar de forma moderna e vivaz a história da Borgonha, seus territórios e tradições, seu modelo de viticultura de terroir, mulheres e homens que moldaram e conduzem a região e os valores de sua construção. Paralelamente, será desenvolvido um programa cultural simultâneo e alternado nos três locais. As inaugurações começam por Mâcon, no dia 3 de maio, seguido de Chablis, no dia 17 de maio, e Beaune, em 17 de junho.
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