Raízes gregas e vulcânicas numa paisagem espetacular

Aproveito o calor escaldante do Rio de Janeiro neste verão para retomar a cobertura da minha viagem por algumas regiões vitivinícolas do sul da Itália, em parte já abordada em outros artigos. A viagem teve dois principais pontos de parada: a área do Etna, no nordeste da Sicília, já tratada em dois artigos, e a região da Campania, tema deste artigo.

Se recorrermos à analogia entre o mapa da Itália e o formato de uma bota, a Campania está bem ao sul da península, no lado oeste, como se fosse a parte anterior da bota, que cobre o tornozelo. É banhada pelo Mar Tirreno e tem como capital Nápoles. Chegar às terras napolitanas em julho me fez lembrar do verão carioca. Afinal, ambas são belas, excessivamente quentes no verão e imersas em um ritmo meio caótico de funcionamento. Mas, por trás dessa ilusão de ótica, há diferenças profundas, e uma delas é a presença histórica do vinho.

Explorando o sul da Itália e seus rebentos vulcânicos

A Itália é uma terra de vinhos, com produção variada e presente em diversas regiões. O sul da Itália está frequentemente associado a vinhos de volume, mas há áreas diferenciadas. Assim como destaquei a área do Etna, na Sicília, como um ponto de excelência da ilha, a Campania exerce esse papel na produção vitivinícola do sul italiano. Isso se deve a uma soma de fatores: história, clima, solos, cepas autóctones e, ainda, condições favoráveis para a sustentabilidade do mercado.

A Campania tem a segunda maior densidade populacional da Itália, ficando atrás apenas da Lombardia. Nápoles é a terceira cidade mais populosa do país, com uma área metropolitana que abriga aproximadamente 4,4 milhões de habitantes. O litoral da Campania é um dos destinos mais cobiçados da Europa, onde se encontra a Costa Amalfitana, com suas paisagens paradisíacas e muitos deleites gastronômicos. Ali perto também está Pompeia, um dos sítios arqueológicos mais preservados do mundo, marcado pelo trágico registro da erupção do Vesúvio.

Talvez a forte relação histórica da Campania com o vinho seja menos evidenciada ao grande público diante dos atrativos naturais e culturais da região. Nem sempre, no contexto turístico mais genérico, estão disponíveis os melhores vinhos, e pode acontecer de, na hora de pedir um bom vinho no restaurante, os rótulos famosos da Toscana e do Piemonte roubarem a cena das riquezas locais. O que é uma pena, pois vale muito a pena conhecer suas maravilhas.

Trata-se de uma das mais antigas regiões vitivinícolas da Itália, introduzida pelos gregos, que trouxeram videiras e instituíram a prática de cultivo de uvas em arbustos, o que ajuda a administrar áreas de baixa precipitação e o alto nível de insolação recebido no verão. A região concentra o maior número de DOCGs do sul da Itália, denominação máxima concedida apenas a produções com histórico vitivinícola significativo para o país e que, uma vez instituída, impõe critérios rigorosos para a manutenção da qualidade dos vinhos.

Apesar da proximidade costeira, assim como em outras áreas italianas, predomina uma topografia irregular: apenas 15% de seu território é formado por planícies e, à medida que nos afastamos da costa e seguimos em direção ao interior, o relevo se eleva rapidamente. O clima é mediterrâneo, com uma longa estação de maturação para as uvas, mas a altitude garante uma boa variação de temperatura entre o dia e a noite, favorecendo a manutenção de ótimos níveis de acidez em suas áreas nobres.

Predominam as uvas tintas (60%), algo comum em climas mediterrâneos, mas a produção de brancos tem seu próprio brilho, com uvas autóctones que surpreendem pela riqueza aromática, frescor e mineralidade.

Mineralidade: eis aí um ponto forte, que pautou a escolha da região para as minhas visitas. Os solos são, de algum modo, impactados pela atividade vulcânica — meio adormecida em algumas áreas e em outras nem tanto. Podem ser estritamente vulcânicos ou conter algum material vulcânico combinado com outros tipos de solo, como calcário, arenito e argila calcária. Essa característica é perceptível pela frescura mineral dos vinhos e pela salinidade em boca. Seguimos com mais detalhes sobre os vinhos da Campania nos próximos artigos.

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