A história da região francesa combina bom terroir, aristocracia e negócios.

A região vitivinícola de Bordeaux se localiza no sudoeste da França, na região da Aquitânia, e está dividida em sub-regiões, com perfis diferenciados de produção, sendo a área com maior número de vinhos classificados como AOCs (Appellations d’Origine Contrôlées) no país. Seguindo a norte, sul e leste da capital Bordeaux, pode-se chegar a várias comunas: Margaux, Pauillac, Graves, Sauternes, Saint Émilion, Pomerol, entre outras. A cidade é atravessada pelo Rio Garone, braço do estuário da Gironda, que liga o sudoeste da França ao oceano Atlântico e que teve papel histórico importante para o desenvolvimento da vitivinicultura de Bordeaux, facilitando o transporte internacional de seus vinhos.

A história de Bordeaux combina bom terroir, aristocracia e alto business do vinho, com todas as pitadas de talentos, privilégios e exclusões que uma mistura dessas pode conter. Os negociantes sempre foram personagens vitais para o desenvolvimento da indústria do vinho francês, e nessa região eles têm papel preponderante, porque desde cedo intermedeiam o pequeno negócio agrícola com outras regiões e o além-mar.

Em uma das visitas a Bordeaux, tive a honra de me hospedar no Château Magnol, de propriedade de um dos grandes negociantes da região: a Barton & Guestier. A BG foi criada em 1802 por Hugh Barton e Daniel Guestier, o primeiro, filho de irlandeses que se instalaram em Bordeaux em 1725 para fundarem uma empresa de transporte comercial naval, e o segundo, descendente de família de marinheiros, que se ocupavam da exportação de vinhos de Bordeaux para a América do Norte. A fácil conexão pelo oceano Atlântico, dentre outros aspectos políticos e econômicos, tornou, desde muito cedo, a Inglaterra e outros países ao norte importantes centros consumidores dos vinhos bordaleses, inicialmente, com um vinho tinto mais claro, quase rosé escuro, chamado “clarete”.

O Château Magnol, castelo sede da Barton & Guestier desde 1978, é circundado por um grande pátio, jardins e vinhedos. Ali produzem um Bordeaux tinto de mesmo nome, classificado como Cru Bourgeois AOC Haut-Médoc. Nessa sede, há duas grandes Caves, a Thomas Barton, construída nos primórdios do Château, inicialmente servindo para depósito de batatas e, depois, reformada em 1992, para guardar 3 mil garrafas de prestigiados vinhos de Bordeaux (o mais antigo, de 1881). A outra cave, Germain Rambaud, guarda memórias de um passado sinistro: foi construída em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Château foi tomado pelos alemães e palco de execuções de soldados ingleses, envolvidos na chamada Missão Frankton, em Bordeaux, para impedir o envio de material bélico ao Japão. A Germain Rambaud também foi reformada e comporta hoje 17 mil garrafas de vinhos do grupo.

O Grupo Barton & Guestier atua hoje em mais de 130 países, como negociante de vinhos franceses, oriundos de grande parte das regiões produtoras do país: além de Bordeaux, o Vale do Loire, a Borgonha, o Vale do Rhône, Provence, Languedoc e Córsega. Hoje, os vinhos tintos que respondem pela reputação de Bordeaux nada têm a ver com os claretes do passado, ao contrário, são vinhos de cor concentrada, com grande estrutura e complexidade. Na parte setentrional do Médoc, predominam vinhos bem longevos, que, se bebidos jovens, estarão ainda tânicos. Mais ao sul, como no Haut-Médoc, os vinhos são ricos, complexos, elegantes e, normalmente, podem ser bebidos mais jovens. O solo, base de calcário com aluviões de cascalho arenoso, está bem adaptado à expressão de suas castas principais.

Luto no mundo do vinho

A Covid-19 não poupa ninguém, nem grandes personalidades, com recursos para os melhores tratamentos. O mundo brasileiro do vinho perdeu, na última quinta, 20 de agosto, um dos seus empresários mais bem-sucedidos, Celso La Pastina, proprietário do Grupo La Pastina/World Wine, grande importador de vinhos e produtos gourmet. Com apenas 61 anos, o empresário estava internado há quase dois meses, em um quadro agravado por complicações cardíacas. Descendente de italianos, seu pai criou o La Pastina em 1947, inicialmente um atacadista de cebolas. Na década de 1970, começaram a trazer azeites e conservas do Chile e Portugal e, na década de 1990, as importações aumentaram, e o braço mais voltado aos vinhos (World Wine) se estabeleceu em 1999, com uma participação efetiva e exitosa do Celso La Pastina em sua administração.

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