Não duvidem da China nem num setor tão especializado, ligado a aspectos naturais e culturais.
Esta semana comprei um bilhete para voar pela Air China! Preço imbatível com direito a levar malas, dado que hoje faz toda a diferença, já que os preços estão sofrendo um acréscimo de quase R$ 1.500 quando incluímos malas. O fato é que eu hesitei um pouco para comprar o bilhete, já que não conseguia me destituir de uma desconfiança inerente ao rótulo chinês. Afinal, no nosso imaginário predomina a ideia (não por acaso) de que produto chinês é barato, falsificado e descartável, referência esta de uma China moderna, que ofusca o rico legado das tradições gastronômicas, medicinais, religiosas e artísticas.
Talvez seja necessário reconstruir esse imaginário num momento em que a China, incontestavelmente, se torna uma potência mundial e que, em contexto globalizado, está cada vez mais presente em nossas vidas não apenas nos produtos descartáveis.
Falar de chá combina mais com chinês do que falar de vinho, isso em tempos de outrora. A China entrou no mundo do vinho de cabeça – como consumidor e produtor – e não se surpreendam se em breve em nossas prateleiras começarem a aparecer rótulos escritos em mandarim e imagens da Grande Muralha. Não duvidem da China nem num setor tão especializado, ligado a aspectos naturais e culturais como o negócio do vinho, pois o país vem avançando muito rápido na aquisição de conhecimentos e tecnologias de produção, bem como na formação de profissionais especializados para ativação deste mercado. Aliás, depois que os EUA conseguiram alcançar destaque para a qualidade dos seus vinhos, inaugurando “oficialmente” o reconhecimento pela crítica internacional de produções extra-Europa Ocidental, a vitivinicultura mundial parece não ter limites, mesmo que ainda em formatos muito padronizados.
No caso chinês, a cultura da vinha chegou ao país em 206 a.C., teve alguns surtos de desenvolvimentos e de interrupção, mas foi após a criação da República Popular da China, durante os anos 1950, que cepas europeias foram introduzidas em sua viticultura, iniciando a reconversão de sua produção. Com as reformas econômicas dos anos 1980, seguidas de alianças com produtores franceses, a vitivinicultura disparou e eleva vertiginosamente a posição do país no ranking mundial. Entre 1996 e 2001, a superfície do vinhedo chinês dobrou e hoje já é a segunda maior mundial, ficando atrás apenas da Espanha. A produção aumentou em 3 milhões de hectolitros desde o início dos anos 2000 e atualmente se encontra em décimo lugar no ranking mundial.
As regiões de produção mais expressivas se localizam no Nordeste da China, com destaque para as províncias de Shandong, Hebei e Tianjin, onde predominam algumas cepas autóctones e variedades francesas, introduzidas recentemente. Há outras áreas promissoras, cujos bons resultados já são aferidos, alguns frutos de parcerias internacionais, como Ningxia, uma região autônoma, a 1.500km de Beijing, ou Xinjiang, na sub-região de Yanqui, noroeste da China, ou, ainda, na Província de Shaanxi, mais a Centro-norte do país. Tradicionalmente, os vinhos locais continham de 30% a 40% de vinhos importados em seu corte, práticas que mudam a partir da concorrência com referências de qualidade superior. Os investimentos começam a apresentar bons resultados qualitativos, embora o mercado, dominado por grandes marcas, tenha um perfil massificado.
Mas não é a produção chinesa que chama a atenção do mundo todo, especialmente dos tradicionais produtores de vinhos, mas o seu consumo, que já ocupa a quinta posição mundial, somando 19,3 milhões de hl. nas últimas estatísticas, com um aumento vertiginoso desde o início dos anos 2000. Uma população milionária disputa as melhores garrafas de Bordeaux e Borgonha em leilões inacreditáveis e também tem comprado propriedades vitivinícolas francesas, já que os valores de um pequeno Château em Bordeaux podem estar bem abaixo de valores de um apartamento em Xangai ou em Pequim.
Jovens “novos ricos” querem saber tudo sobre vinho e ostentam suas coleções de produtos bem cotados mundialmente. De modo geral, a classe média aumenta e pode arcar com o consumo cotidiano de uma oferta crescente de vinhos importados. A propósito, China já é também o quarto importador mundial, vindo após os onipresentes pesos-pesados do consumo mundial: Alemanha, Grã-Bretanha e EUA. Não é a toa que eventos consagrados mundialmente no mundo do vinho, antes só realizados na Europa, ganharam suas versões asiáticas, como Vinexpo, ProWein, Vinisud e Concurso Internacional de Bruxelas.
As preferências de consumo do mercado chinês não se diferenciam dos demais países de vinicultura mais recente: vinhos tintos mais frutados, de consumo jovem, com destaque para a cepa Cabernet Sauvignon. Quando falamos de consumo per capita, a média anual é ainda inexpressiva: 1,7l. Mas, considerando a grandeza dos números da população, é fácil prever que, com um pouquinho mais de crescimento do consumo per capita, a China chegará facilmente e muito breve ao topo do ranking de consumo mundial.
Para saber mais sobre turmas abertas da Cafa Wine School, de Bordeaux, representada por Miriam Aguiar no Brasil, visite miriamaguiar.com.br / Instagram: @miriamaguiar.vinhos
José Pacheco
says:Achei esse site nas pesquisas na internet, me interessou
muito o assunto. Obrigado!