Provas de vinhos do Porto para consumidores e profissionais aconteceram em alguns pontos do Rio de São Paulo.
No início do mês, participei de uma das ações promovidas pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) no Rio de Janeiro, entidade reguladora e promotora das denominações de origem Douro e Porto. As ações ocorreram entre 21 de novembro e 1º de dezembro no Rio e em São Paulo e incluíram degustações em pontos de vendas para consumidores finais e masterclasses em instituições de formação em vinhos. No Rio, as ações para profissionais e estudantes do mercado de vinhos aconteceram em três instituições nas quais atuo como professora: Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), Senac e Le Cordon Bleu.
Já tenho reportado alguns eventos de apresentação e promoção dos vinhos portugueses no Brasil, pois há um crescente investimento neste mercado por parte da vitivinicultura portuguesa. Portugal é uma das origens de vinhos mais importadas pelo Brasil, que também é um dos primeiros nas estatísticas mundiais de exportação de vinhos portugueses.
Para além do quadro mais atual, mesmo antes da renovação da vitivinicultura portuguesa, que tem destacado produções de áreas antes pouco conhecidas, pode-se dizer que a região do Douro, por meio de seu grande vinho do Porto, já ocupava um lugar de destaque inquestionável no cenário internacional. Eles fazem parte daqueles clássicos que não podem faltar em quaisquer adegas de colecionadores e dos restaurantes mais “classudos” do mundo.
Sua fama vem desde o século 18, quando estabeleceu uma relação comercial muito fecunda com a Inglaterra, o que fortaleceu economicamente a região e exigiu certos investimentos visando à manutenção de sua qualidade produtiva. Uma dessas iniciativas se deu em 1756, quando o Marquês de Pombal estabeleceu uma delimitação da área de produção do Douro, para evitar fraudes que colocavam em risco o seu padrão produtivo. Essa delimitação é conhecida como a fundadora do modelo de denominações de origem, posteriormente aperfeiçoado pela França e em pleno processo de apropriação e adaptação mundial.
Para os brasileiros, antes dessa ampla oferta de vinhos portugueses de diferentes regiões, os exemplares que mais frequentavam o nosso vocabulário eram os leves vinhos Verdes brancos (há rosados e tintos, mas esses são os mais difundidos) e o vinho do Porto, bebido em cálices solo ou após as refeições por inúmeras famílias.
Costumo comentar, em minhas aulas, que a minha querida avó materna mineira adorava o vinho do Porto e, em cada uma de suas 10 gestações no interior do estado, meu avô ia a Belo Horizonte buscar uma garrafa daquele ouro líquido, que, segundo a crença popular, estimularia a produção de mais leite materno. Creio que o vinho trazia mesmo era felicidade e relaxamento ao imperativo nada fácil de colocar no mundo tanta gente!
A aula sobre os vinhos do Porto foi conduzida pelo Wine Educator do IVDP, Carlos Soares, apresentando dados da região e da produção dos diferentes estilos desse vinho, com uma prova de seis vinhos. Vimos um pouco de suas diferentes áreas de produção vitícola, suas uvas autóctones, seus processos produtivos e de guarda. Foram abordados também detalhes dos tipos de vinhos que compõem as duas famílias de Porto: Rubi (de envelhecimento redutor, valorizando a fruta e seus aromas primários) e Tawny (com tons acastanhados e notas terciárias, pelo envelhecimento oxidativo). Todos os vinhos do Porto são fortificados, ou seja, vinhos que levam adição de aguardente vínica e, por isso, são mais alcoólicos (entre 18° e 22°).
Provamos o Porto Vista Alegre White; o Porto Poças Brig’s Rosé (modalidade produzida a partir de 2007); o Porto Messias Tawny 10 Anos; o Porto Ferreira Dona Antónia Tawny 20 Anos; o Porto Krohn LBV 2013 e o Porto Taylor’s Fladgate Quinta das Vargellas Vintage 2015. Apesar das qualidades inquestionáveis dos Tawny’s mais envelhecidos e do Vintage, ressalto a relação preço/qualidade do LBV, que é um Porto safrado, pronto mais jovem para beber do que o Vintage (também safrado) e com preço bem mais acessível.
Outro ponto que me chamou atenção e que tem terreno fértil no Brasil foram os Portos brancos e rosés. O branco servido foi bem diferenciado, com grande complexidade, e o rosé trouxe um frescor e aromas que considero uma ótima pedida para drinks. Eles o serviram com gelo, que reforça a sua possibilidade de ser explorado pelo campo da coquetelaria. Muitos não sabem, mas há um drink chamado Portônica (Porto Branco + água tônica e complementos variáveis) muito agradável para se beber no verão. Acaba dando mais leveza e versatilidade para o consumo do vinho fortificado.
Isso vai ao encontro de uma estratégia de ampliação das possibilidades estilísticas da região do Douro. Apesar do renome internacional do vinho do Porto, a região do Douro tem intensificado o investimento em sua produção de vinhos de mesa secos, já que o mercado consumidor tem mostrado uma queda maior para vinhos tranquilos secos. No passado, os vinhos doces de qualidade (fortificados ou não) eram adorados e, em muitos casos, mais valorizados do que os secos, mas hoje as regiões que focavam muito no estilo doce, têm ampliado a produção de secos. Uma maneira de estender o renome construído para outros produtos, ampliando a diversidade estilística e atendendo às novas tendências do mercado.
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