O Novo Mundo do Vinho apostou na segmentação dos vinhos por variedade e isso de certo modo mais universaliza um estilo de vinhos do que o modelo da Denominação de Origem, que os particulariza. Se essa opção tem suas justificações mercadológicas, ela também nos fala de uma vitivinicultura pouco madura, pois, aos poucos, como veremos, as novas regiões vão criando um repertório próprio, advindo de suas características naturais e culturais.
Quando a Sauvignon Blanc passou a ser trabalhada para vinhos varietais no Novo Mundo, ela fazia parte de um grupo de cepas com alta credibilidade internacional. Dois modelos principais, apresentados nos artigos anteriores, serviam de inspiração: a Sauvignon do Vale do Loire e a de Bordeaux. A primeira, resultante de climas mais frios, resulta em vinhos frescos, de perfil mais leve, com alta acidez, aromas herbáceos, florais e minerais. A segunda, oriunda de clima mais caloroso, dá um vinho de estilo mais frutado e corpulento, envolvendo, em alguns casos, passagem por madeira. Pois bem, podemos dizer que o Novo Mundo é uma projeção desses perfis em ambientes com alguns elementos semelhantes, com direito às adaptações culturais e inovações.
Nos EUA, a partir do final dos anos 1960, o famoso produtor Robert Mondavi e outros californianos começaram a reproduzir na “América” o modelo francês em vinhos varietais da Cabernet Sauvignon e Chardonnay, com sucesso. O vinho da Sauvignon Blanc, com sua acidez viva, obteve um estranhamento dos novos consumidores, acostumados ao paladar açucarado da indústria alimentar moderna. Isso levou à “criação” de um estilo de Sauvignon que se aproximava, por um lado, do perfil mais caloroso de Bordeaux, e, de outro, dos brancos amanteigados da Chardonnay. Apelidaram esse vinho de Fumé Blanc que, ao mesmo tempo, remetia ao francês mais “chique” da Sauvignon Blanc – o Pouilly-Fumé, cujo perfil ácido e mineral estaria exatamente oposto ao que se propunha ali.
Boa estratégia de marketing – a contradição entre os defumados da barrica e os da mineralidade não provocou estranhamento no público norte-americano, que se afeiçoou ao Fumé Blanc. Com o passar do tempo, esse estilo se refinou; o Fumé Blanc ficou mais elegante e a versão mais fresca da Sauvignon ganhou seu lugar na região de Oregon, noroeste dos EUA, e em partes mais frescas da Califórnia.
Pouco depois, outra região do Novo Mundo adotou o modelo do Loire com muito êxito: a Nova Zelândia. O clima frio, com forte influência marítima, associado a altos índices de luminosidade tornou a Sauvignon fresca, acidulante, mas ao mesmo tempo aromaticamente explosiva. O caráter cítrico mais discreto do hemisfério norte ganhou sensualidade, revelando uma gama atraente de frutas tropicais (maracujá, manga, goiaba, melão) e notas herbáceas fragrantes. A Nova Zelândia virou uma referência em Sauvignons e estimulou mudanças em outras regiões.
O Chile que, historicamente, já plantava a Sauvignon em seus Vales Centrais de clima mediterrânico – fazendo vinhos mais calorosos e menos aromáticos –, após a revolução da vitivinicultura nos anos 1990, começou a buscar territórios mais próximos do mar para aclimatá-las (Casablanca, Itata, Bío-Bío, Leyda, San Antonio, Elquí e Limarí).
Na África do Sul não foi diferente. Após o período difícil do Apartheid, a renovação de uma das vitiviniculturas mais precocemente desenvolvidas do Novo Mundo levou às busca de melhores clones da Sauvignon Blanc e o deslocamento das produções rumo às regiões com maior influência marítima. Stellenbosch tinha produções de vinhos Sauvignon Blanc de clima quente e agora as regiões que se destacam são Elgin, Walker Bay e Cape Point.
Nos dois casos, Chile e África do Sul, há um entendimento de que os vinhos, embora busquem o caráter mais fresco da Sauvignon, trazem uma fruta mais discreta, com certa finesse que colocam os vinhos entre o perfil neozelandês e o francês. Mas, na própria Nova Zelândia, há diferenças entre os vinhos da Ilha do Sul e da Ilha do Norte – esta, de clima mais quente, estaria a meio caminho entre o Fumé Blanc e os Sauvignons bordaleses.
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