Nesse artigo, continuamos a abordar os vinhos brancos, melhor pedida para este verão caloroso. Vamos de vinhos franceses novamente, afinal, além de serem referências para o mundo todo – o que faz com que suas cepas mais famosas também estejam em outros países do Velho e do Novo Mundo – a França é um país de muitos vinhos brancos, os quais têm tanta importância quanto os tintos.
Apresento aqui um pouco sobre vinhos brancos do Vale do Loire e, especialmente, do Loire Central. A produção do Vale do Loire como um todo é bem diversificada – faz-se vinhos espumantes, brancos, rosés, tintos, licorosos e, mais recentemente, laranjas. Um pouco do que justifica essa multiplicidade está em seu perfil cartográfico, bastante horizontalizado, que acompanha o percurso do Rio Loire desde o centro-norte da França até o litoral atlântico. Isso resulta em uma variação climática entre suas sub-regiões, mas, de qualquer modo, o Vale do Loire está numa faixa latitudinal (em torno 47º N) onde predominam vinhos brancos.
A posição central do Vale do Loire acentua esse perfil setentrional, porque é onde o clima deixa de ter importante influência oceânica e se torna mais continental. Isto é, quando se está mais próximo da faixa litorânea, o clima se torna mais ameno e, ao contrário, no interior do continente, as estações são mais marcadas e o inverno é mais rigoroso, com risco de geadas, que podem complicar o início do ciclo da uva. Há três cepas brancas principais no Vale do Loire: a Muscadet, que é dominante na área próxima ao Atlântico, com um perfil de vinho bem seco e mineral, a Chenin Blanc, que se faz presente à medida que caminhamos na direção leste, numa faixa mais intermediária, e a Sauvignon Blanc, presente no segmento mais oriental – a partir da cidade de Tours até o Centro Loire.
A Chenin Blanc é uma preciosidade, mais presente, mundialmente, no Vale do Loire e na África do Sul. Há um crescente uso dela mais ao sul da França e experimentações em outros países, mas ainda aquém da múltipla riqueza que ela fornece aos vinhos do Loire: espumantes, brancos secos e licorosos. Divide o protagonismo qualitativo com a Sauvignon Blanc, com uma divisão territorial que não é aleatória, pelo contrário, tem a ver com a melhor adaptação das cepas. A Chenin Blanc é uma cepa de brotação precoce e o rigor continental pode ameaçar o seu crescimento vegetativo no Centro Loire. É justo ali que a Sauvignon Blanc, que brota um pouco mais tarde, achou o seu melhor terroir.
Existem cidades nucleares, mais identificadas com as sub-regiões: Nantes (Pays Nantais), Angers, Saumur (Anjou-Saumur), Tours (Touraine) e a região Central, a sudeste de Orleans e cerca de 200km de Paris. Quando chegamos à região central, a Sauvignon Blanc será mais dominante e consagrada em duas AOCs, que tiveram a introdução da casta intensificada após a crise da Filoxera: Pouilly-Fumé e Sancerre. Essas duas AOCs provavelmente têm mais fama internacional do que o Loire inteiro e isso não faz jus à sua tradição e diversidade, mas, de fato, há vinhos de enorme qualidade que consagraram esses vinhedos como os preferidos da Sauvignon Blanc.
Os vinhedos da AOC Pouilly Fumé ficam em encostas suaves à margem direita do Rio Loire, no seu sentido rumo à costa oeste. O adjetivo “fumé” se refere a dois aspectos: a uma película cor de fumaça que cobre as uvas no período de sua maturação e ao caráter defumado dos vinhos feitos de uvas cultivadas em solos de argila e sílex desta AOC. A mineralidade do solo favorece o desenvolvimento de certos precursores aromáticos da Sauvignon, enriquecendo os sabores deste vinho branco.
Já os vinhedos de Sancerre ficam à margem esquerda do Loire, em solos de cascalho e calcário, que aportam ao vinho uma expressão majestosa, resultando em Sauvignon’s vibrantes, aromáticos e minerais. Nessa área mais centro-norte do país é a tinta Pinot Noir que começa a dominar e que dá origem aos Sancerres tintos e rosés, contrariando a prevalência da Cabernet Franc para os vinhos tintos do Vale do Loire.
A Sauvignon também produz brancos em outras AOCs da faixa Central (Menetou-Salon, Quincy, Reuilly), que podem ser uma alternativa em termos de preços, mas que normalmente são vinhos mais simples, não chegando à nobreza das estrelas do Centro-Loire. Embora o perfil dos Sauvignon’s ali seja de vinhos mais frescos e minerais, há excelentes experiências de produtores que têm utilizado métodos para dar mais volume e untuosidade aos vinhos (fermentação em barrica, bâtonnage). Merecem ser conferidos!
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