Domaine Paul Mas é considerada revolucionária no conceito de vinhos do Sul da França.
Recentemente, esteve no Rio de Janeiro o produtor Jean-Claude Mas, proprietário da Domaine Paul Mas, sediada na região vitícola do Languedoc-Roussillon, no Sul da França. Nascido em Pézenas, seu interesse pela vitivinicultura foi despertado desde cedo pelo contato familiar com o avô, produtor de vinhos. Antes de seguir o mesmo destino, explorou outros universos pessoal e profissionalmente. Formou-se em Economia e Publicidade, passou temporadas em outras regiões da França, na Inglaterra e nos EUA, onde se envolveu em projetos voltados para o mercado de vinhos, bem como com outra paixão: carros e motos.
Foi no início dos anos 1990 que a produção de vinhos firmou suas bases, a partir de uma experiência profissional em Bordeaux e do encontro com o produtor italiano Giorgio Grai, que o estimulou a criar os primeiros vinhos. Hoje, ele se tornou uma importante referência para a criação da identidade moderna dos vinhos do Languedoc – uma terra francesa muito apta à viticultura, com histórico longevo de produção, mas que por muito tempo esteve associada aos vinhos de mesa.
Tal histórico não estaria relacionado à falta de potencial qualitativo regional, e sim a um investimento pouco orientado à produção de qualidade, com certa acomodação ao status de grande fornecedor francês de vinhos de volume. Questões complexas envolvendo toda a configuração político-econômica da vitivinicultura do país.
O fato é que o Languedoc, assim como o Roussillon (área mais ao sul da França, próxima de Perpignan e da fronteira espanhola), vem passando por uma grande revolução produtiva, e o Domaine Paul Mas é um dos principais protagonistas dessa renovação. Jean-Claude Mas representa a quarta geração de vignerons da família e fundou a vinícola em 2000. Seu perfil empreendedor é impressionante, pois, de um pequeno negócio familiar, oriundo de 35 hectares herdados, ele passou a 15 propriedades, espalhadas ao longo do Languedoc-Roussillon, desde o Departamento de Gard aos Pireneus Orientais.
Para produzir cerca de 25 milhões de garrafas, distribuídas em mais de 70 países, ele conta com 940 hectares de vinhedos próprios, além de 1500 hectares de vinhedos parceiros. Um acervo de 45 cepas, incluindo autóctones, internacionais e outras menos conhecidas – o que permite uma excelente diversificação produtiva. Os vinhos da Domaine Paul Mas são importados pela Importadora Decanter no Brasil, um braço pequeno de seu enorme mercado internacional.
Algo curioso é que, apesar de o Languedoc-Roussillon ser mais conhecido pelos seus vinhos tintos, alinhados com o perfil de clima predominantemente mediterrâneo (com longa estação de maturação), parte significativa de seu portfólio é de vinhos brancos. O produtor explora a altitude de alguns terroirs para plantar cepas brancas, que podem contar com uma boa diferença de temperaturas entre o dia e a noite, diminuindo o ritmo do amadurecimento e preservando melhor a acidez. Sua paixão pelos vinhos brancos o estimulou a incorporar técnicas e tecnologias que valorizam a expressão aromática da fruta, bem como o equilíbrio entre açúcares e acidez.
Eu, que sou também uma apaixonada por vinhos brancos, pude comprovar a qualidade de alguns presentes na degustação. Sauvignon Blanc, Chardonnay, Gewurztraminer (surpresa nessa região) e Viognier fazem parte da gama de vinhos disponíveis no Brasil, além de vários tintos. A Viognier, inicialmente mais identificada com a região do Vale do Rhône, hoje é uma das vedetes do Languedoc; faz vinhos varietais de puro prazer, com notas aromáticas muito evidentes de frutas de caroço (pêssego, damasco) e toques florais.
Seguem trechos do meu bate-papo com o produtor:
A CULTURA BRASILEIRA É BELA!
Há quanto tempo seus vinhos são importados pelo Brasil?
Jean-Claude: 12 anos, sempre com a importadora Decanter.
Tem percebido alguma mudança neste público consumidor?
Tem sete anos que eu não venho ao Brasil, por isso é difícil saber se o mercado mudou, especialmente depois da pandemia. O que me surpreende é a importância da rede social para o público brasileiro. O número de vinhos comentados pela rede é grande; acho isso único no mundo. Há também um movimento por parte dos jovens e isso é um valor para o futuro.
Qual a conexão do seu vinho com o Brasil?
Eu acho que meu vinho é para o público daqui; um vinho gourmand, fácil, frutado, bom para o paladar, para a saúde, com um caráter convivial, que pode ligar as pessoas, notadamente os jovens. Para mim, o Brasil é isso e eu compartilho desse mesmo sentimento. A cultura brasileira é bela!
Qual seria o perfil de vinhos do Languedoc-Roussillon hoje?
No Languedoc, não somos exatamente como a França, nem como a Espanha, nem como a Itália. Temos um caráter bastante único, que é de fazer um vinho gourmand, frutado, com paladar maduro e aberto à diversidade. É a única região onde podemos trabalhar com muitas uvas, onde podemos fazer assemblages de 12, 15 uvas. Assim, trata-se de uma região onde a capacidade de criação é extraordinária. Além disso, na região mediterrânea há uma regularidade de safras. O melhor clima para uvas, que existem ali há mais de 2000 anos. Houve uma grande mudança em relação à conversão de vinhos de mesa a vinhos mais finos e precisamos de um pouco mais de tempo para passarmos à categoria de grandes vinhos. Mas o reconhecimento mudou muito nos últimos anos.
Como se constitui o mercado do Domaine Paul Mas atualmente?
Meu mercado é 88% internacional, porque os estrangeiros são mais abertos, e os franceses são muito conservadores, não gostam de mudar. O mercado brasileiro é bom, mas os vinhos ainda são caros aqui. Os nossos vinhos conseguem um preço razoável ainda aqui, porque na origem são baratos.
Gostei dos vinhos da nova linha L’Artisan. Pode comentar um pouco a respeito?
Eu sempre valorizo o trabalho de artesão, por isso o nome da nova linha: L’Artisan. São vinhos que se parecem comigo e que falam de uma origem. Pinot Noir é de Limoux, Carcassone; Grenache é principalmente de Perpignan; Syrah é mais Minervois; Gewurztraminer e Riesling estão em uma área muito particular. Mas, para mim, o melhor exemplo do Languedoc é a Viognier!