Não é para parar de viajar, mas repensar a forma de viajar.
Tenho viajado com frequência à Europa há alguns anos e sempre busco visitar regiões de vinhos (o que não é difícil encontrar) e explorar tudo que posso do tema Enogastronomia. Isso inclui sempre bares de vinhos e restaurantes, além das vinícolas e, no final, alguns vinhos na mala! Além de bons vinhos, com um histórico que lhes permitem apresentar particularidades, as regiões de vinhos são lindas – nos fazem descobrir novas paisagens e culturas e isso é algo fascinante para mim. Os lugares e seus vinhos serão temas desta coluna, mas, neste artigo, quero comentar alguns aspectos práticos e circunstanciais que podem tornar essa experiência menos satisfatória, quando temos limites de verba, o que é mais comum do que o contrário.
Sempre discuti com alguns amigos apreciadores de vinhos que, de certo modo, a aquisição de alguns produtos no exterior pagava a viagem. Em tempos econômicos mais estáveis, a diferença de preço entre os vinhos na Europa e no Brasil sempre foi suficiente para tornar esta uma das compras mais compensadoras. Falo, particularmente, de vinhos mais caros, que, na origem, em euros, têm valores acima da média, mas que quando comparados aos do Brasil, se tornam verdadeiras barganhas. Afinal, um vinho pode ser maravilhoso, mas dependendo do preço, não justifica a qualidade, por melhor que ela seja.
Os preços dos vinhos importados, que não os da América Latina, são bem mais caros aqui por uma conjunção de fatores, desde os mais razoáveis, como transporte, climatização, comissões intermediárias, aos excessivos, como os impostos brasileiros. Essa diferença de custo da origem ainda persiste e existem algumas sinalizações de mudanças por acordos internacionais ainda em trâmite, mas a novidade é que se observa agora uma lamentável perda de poder de compra, mesmo estando lá.
Quando morei na França, em 2012, a relação cambial entre o euro e o real era de € 1 para cerca de R$ 2,70. Sete anos depois, vejo-me pagando quase R$ 5 para cada euro, isto é, pagando R$ 200 para um vinho de € 40, pelo qual eu poderia pagar pouco mais de R$ 100. Gosto também de degustar vinhos em taça para explorar a diversidade, e é normal que o preço aumente no restaurante, principalmente em porções menores. Para se beber a taça de um bom vinho é necessário uns € 10 – isso agora custa perto de R$ 50. Depois de algumas taças (afinal, a ideia é explorar os vinhos), você acaba refletindo se esta é uma boa opção. Além do mais, vinho pede comida e, dependendo da conta, esta acaba ficando “salgada”.
Sempre evitei fazer conversão de moedas em viagem; além de dar um nó na cabeça da gente ficar fazendo conta o tempo todo, não dá para comparar valores de realidades estrangeiras, sem considerar o que se ganha e o que se paga – é necessário contextualizar. Confesso, entretanto, que fui afetada pelo horror da multiplicação crescente, desde que comprei a minha passagem. Acabei concluindo que: excluindo o caso dos vinhos mais exclusivos, que não chegaram aqui ou, ainda, vinhos muito especiais, que ainda são muito caros aqui e que você consegue comprar localmente mais em conta – posso afirmar que, com essa diferença cambial, o consumo de vinhos não ficou tão atrativo na Europa quanto antes, em função da desvalorização do real.
Além disso, quando falamos em visitar regiões vitivinícolas, há que se considerar também roteiros mais exclusivos, aluguel de carro, pedágios, entre outras despesas. Como acabo de chegar de uma viagem em alta estação, é fato: preços inflacionados, gente demais em todo lugar e recepção muito aquém do esperado. Hotéis caros, chegando a ter horários de check-in às 20h e check-out às 10h! Passagens aéreas e aluguéis de carro com valores abusivos e, em modalidades promocionais, cheios de “pegadinhas”. Por exemplo, muitos sites e empresas parceiras vendem passagens mais baratas, mas com alguns limites, como de bagagens. Se você traz vinhos, precisa de mais bagagem e eles não permitem a compra facilitada de peso extra pela internet, fazendo com que fiquemos à mercê dos preços de última hora.
Não é para parar de viajar, mas repensar a forma de viajar. As paisagens vitivinícolas continuam maravilhosas, e eu não posso me queixar da recepção nos locais de produção, bem como da memória organoléptica que os belos vinhos me deixaram. Para finalizar, algumas dicas conclusivas:
– Comprar vinhos da região e, se possível, nas vinícolas;
– Em restaurantes, se tiver companhia, compensa mais beber garrafa do que taça;
– Buscar promoções locais em lojas de vinhos e, se possível, provar o vinho que desconhece antes ou consultar guias especializados locais, para fazer compras mais assertivas;
– Quando fizer reservas de hotéis e carros por internet para obter preço mais barato, muita atenção a todos os detalhes;
– Ter telefone para ter mais autonomia – melhor opção de preço é comprar chips em cada país.